Mas sei no meu íntimo, que isso é só uma desculpa, um motivo para driblar minha covardia, já que nada desses acontecimentos são para mim novidade. Preconceitos que na verdade, muitos vivenciamos em casa, nas ruas, escolas, trabalho, nas brincadeiras entre amigos, e que até alguns anos atrás eram considerados apenas divertimento. Creio que o motivo real do que escrevo hoje é compartilhar o que eu gostaria de ter lido a algum tempo, na esperança de que algumas pessoas tenham o conhecimento de que não estão sozinhas enfrentando esse problema, querendo desistir como tantas vezes tive vontade. Hoje sou magro demais, gordo demais, tenho espinhas em excesso, sou baixinho, sou isso ou aquilo… Sempre existirá um motivo de ser chacota, talvez uns mais que outros. Aceitar essa situação, ou pior, fingir calado, não me fez ser mais forte. Mas travar uma batalha não é de meu feitio, e reviro até os olhos pensando no quão cansativo é sair discutindo com todos que tenham opiniões diferentes a minha quanto à tênue linha que divide liberdade de expressão e respeito. Só sei que princípios essenciais à convivência social me foi ensinado desde pequena por familiares, amigos e pela escola. Tais conhecimentos me permitiu agir de forma aceitável ante a sociedade. Mas chegou um momento em que percebi que respeitar os mais velhos não fazia com que os mais novos me respeitassem, não mexer nos materiais de colegas não impedia que meus objetos pessoais sumissem ou fossem bagunçados, respeitar o meio ambiente não me deixou a salva de ver lixos jogados na rua ou animais sendo maltratados em minha frente ou que não agir com preconceito pela cor de pele, religião ou opção sexual não me poupou em ser tratada com tanta diferença. Cobrar de quem então todas as regras que me foram impostas e que não são cumpridas? Assim, surge o caos escondido por trás desta fachada, a qual me fez querer chorar, gritar e fugir do fantasma da angústia, sentimento este transformado em ações que, muitas vezes, refletiam em meu dia a dia, afetando minha vida de forma não intencional, tornando-me minha pior inimiga. Uma bagunça que batalho todos os dias para ordenar, mas que de alguma forma se torna cada dia mais fácil de ser vencida. Fugir hoje já não é mais uma opção. Este é um livro baseado na teoria, na prática e nos resultados obtidos ao longo de minha jornada, que me fez acreditar que é possível, sim, resistir neste mundo, sobrevivendo a si mesmo.